sexta-feira, abril 01, 2005

Sobre ter virado moda que me escondam as coisas

Depois de uns três posts monotemáticos, mudemos pelo menos o foco deste. Entendam por foco a pessoa que me fez escrever e as suas atitudes como causadoras de reflexão. Sim, mudemos o foco sem mudar o tema. Continuemos com a mentira e incluamos a omissão, o que denuncia a total falta de criatividade para temas do que vos escreve. O dia no qual escrevo sobre a mentira também não poderia ser mais propício. Seria até coincidência se eu não estivesse escrevendo freneticamente sobre isso há uns tempos.
Comecemos por dizer que sei que a mentira é necessária às vezes porque a sinceridade deve ser seletiva. Até que ponto cada um de nós agüenta ouvir toda a verdade? Mais do que isso: até que ponto não é mais cômodo não saber as verdades, mantê-las debaixo do tapete?
Bom, acontece que tem horas que não há mais lugar debaixo do tapete e tudo começa a parecer movediço. Já não há confiança na boa-fé das pessoas e já não há mais nada que dê o norte à capacidade de depender. Tudo torna-se um grande ponto de interrogação que, faminto, devora todo o alento interior que as omissões tinham sustentado até então. Castelo sobre areia fofa. Um mundo até então sem grandes hipocrisias e sem falsidade torna-se todinho relativo e feito contra aqueles princípios que são sempre lindos na teoria: verdade, justiça, lealdade, honestidade, retidão, austeridade, etc x etc = etc².
Já não há mais espaço para a omissão e mentiras. Já não há espaço para algumas dúvidas em mim. Quero verdades, preciso de algumas respostas. Odeio a covardia dos que tapam o sol com a peneira unicamente pelo medo da desaprovação de outrem. Lê-se nas entrelinhas que há algo de errado no ar e a imaginação tende a ir longe criando evidências, percebendo o que não existe, torturando a mente já inquieta devido à dúvida. Não quero mais ter dúvidas, pelo menos sobre esse assunto que vem me incomodando. Há coisas que estão mal explicadas já há uns três anos e, se for para explicá-las de modo plausível, vou fundo. Cansei de ver as peças faltando, quero todas. É preciso saber se tenho condenado alguém injustamente por anos a fio por um ato que, por erro de compreensão, pode ter variado de absolutamente misericordioso a condenável e repugnante.
Resta apurar. Resta também reavaliar as pessoas nas quais eu confio, já que isso tem consistido em grande fonte de decepção. No mais, desculpem. Estou cansado. A faculdade tem roubado não só importantes horas de ócio criativo, mas também a energia para escrever. Não é reclamação. Talvez seja só mais uma prova de que existe a providência divina. Não é um momento bom para eu ter a cabeça vazia e poucos compromissos. É chegada a hora de dinamizar um pouco a minha vida e alçar vôos um pouco mais distantes do ninho. Talvez olhando o ninho de longe eu perceba que se trata mesmo de uma barca furada, que é melhor saltar dele porque qualquer esforço de salvá-lo não será mais do que estéril (sentimento atual, infelizmente).
Além disso tudo, eu confesso: odiei esse post. Achei um pouco mal-escrito. Estou cansado.
Já planejo um próximo post que talvez verse sobre a relativização do processo de "enfilhodaputamento" das pessoas.

***

O Marcelo Camelo tem mesmo muito talento. Será o nosso próximo Chico Buarque? Tomara que não, ninguém precisa de outro Chico. Só de outros tão geniais quanto ele, cada um à sua maneira. Enfim... olha só o que ele escreveu:


Santa Chuva

(ele)
Vai chover de novo,
deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar,
E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus,
mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim,

Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar,
Não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade

(ela)
Quem é você pra me chamar aqui se nada aconteceu?
Me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez?

Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem,
A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar,

Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha tv que eu vou de vez,

Não há porque chorar por um amor que já morreu,
Deixa pra lá, eu vou, adeus.
Meu coração já se cansou de falsidade.

***

Meio desnecessário dizer que eu, às vezes, sou (ela).