sexta-feira, janeiro 07, 2005

Questionamento compulsivo somado à melancolia emprestada de Eugênio, de Olhai os lírios do campo

Por que escrevo? Unicamente para matar o tempo e matar quem me mata, uma vez que cabeça vazia é a oficina do diabo. E tem sido. Trata-se do meu quarto dia de férias efetivamente falando e eu já me encontro irritado. Irritado pelos pensamentos e pelo ócio. O ócio... Não consigo faze-lo criativo de modo satisfatório. Na verdade, aproveita-lo para criar ou exercitar algo exige o mínimo de força de vontade e de falta de preguiça e eu não disponho de nenhum deles. Apenas vegeto. Aliás, se vegetasse não poderia dar-me ao luxo de ficar questionando compulsivamente os mais diversos aspectos da minha vida. São, sobretudo, aspectos razoavelmente obscuros e que são pedras no meu caminho. Aliás, nem pedras são. São gavetas fechadas e eu não disponho das chaves para revelar os conteúdos. Dúvidas das mais diversas.
Ando com meu humor em uma montanha-russa e com a gula em alta. Começo a acreditar na baboseira de inferno astral.... Ao inferno os astrólogos! Aliás, a vontade mesmo é de mandar muita gente para o inferno. Bem poucos se salvariam hoje e isso é porque ando mais sensível e intolerante em relação aos defeitos alheios e às pisadas de bola. Desde ontem tenho me questionado muito a respeito dos amigos de conveniência, da volubilidade das pessoas e à minha incredulidade mediante as suas declarações de amizade e carinho. Sinceramente, prefiro que provem tudo isso com atos ao invés de simples abraços que me roubam o jogo de cintura e até me entorpecem o sarcasmo. (ainda que não negue que os abraços são muito lisonjeiros). Quero colo. Preciso dele. Eu percebo isso mas há quem insista em não perceber. Faço todo o possível para dar suporte àqueles que sabem que me são caros, mas, infelizmente, ontem tive a impressão de que a satisfação pessoal parece ser muito mais importante do que eu e que, enfim, não há reciprocidade. Afinal, o que eu posso proporcionar a alguém? Ontem, nem risadas. Só meia dúzia de frases soltas, carregadas de um pessimismo e uma lerdeza aflitiva. Pensamentos que se embaralhavam e não expressavam pelo que eu passava. Talvez tenha sido bom. Não creio que a indiferença que me foi mostrada possa ser indício de tratar-se de alguém realmente confiável. Logo eu! Confiar em alguém que não merece essa confiança... Realmente, preciso de um pouco mais de amor próprio, reflexão e, definitivamente, colocar em ordem alguns aspectos da minha vida. Reavaliar, pesar novamente algumas relações e ver se realmente são pessoas que possam ser tão confiáveis quanto eu necessito e tão generosos como uma amizade de verdade requer. Porque a amizade pressupõe altruísmo e porque eu tenho asco do egoísmo.
O egoísmo leva a outra questão que me incomoda porque convivo com ela: individualismo. E ele está aqui, no quarto ao lado, dormindo. Está exausta (no feminino por trata-se de mera encarnação do individualismo e do desapego). Enquanto isso, eu tenho tempo de pensar em como nossas relações estão sendo corroídas ao longo do tempo e conforme a vida moderna passa a demandar cada vez mais de nós. Em verdade, somos escravos dos nossos horários, compromissos, trabalho e simplesmente falta tempo para todo o resto. Minha casa parece ter se convertido em uma pensão e chego a sentir saudoso qunato a um passado não muito distante. É um saudosismo de tolos. Ao analisar profundamente, dá para ver que o passado e tão desesperador quanto o sono tranqüilo do individualismo, que dorme aqui ao lado. Dorme pesado, como que concentrada, até o sempre. Enxergar isso é convite ao ceticismo, no qual eu não consigo ver felicidade ou beleza. A mim os céticos soam muito áridos, como aquele desenho odioso, o “U.S. Marshalls”. Confesso que a visão apocalíptica do desenho me causava um desconforto estranho, o que talvez se deva ao fato de irreal demais de um modo pessimista aliado à morte das perspectivas humanas. Talvez o ceticismo se assemelhe muito à morte da esperança e deve ser este o motivo que me leva a relutar em aceita-lo de uma vez por todas como uma verdade minha, ainda que por muitas vezes me seja bem claro que trata-se da verdade do mundo.
De fato, como vem acontecendo desde ontem e ao longo de todas as conversas nas quais eu tento ser simpático, minhas idéias estão muito desconexas e só me desculpo com quem vai tentar entende-las. Um calor infernal e eu aqui com calafrios. Definitivamente, preciso ocupar a minha cabeça com alguma coisa que não me tragam mais questões.
Talvez a ansiedade pela segunda fase da Fuvest esteja colaborando com esse sentimento estranho que eu sinto. Fuvest... Fuvest... Fuvest... Chega.