quinta-feira, dezembro 01, 2005

Sobre a minha concepção de apocalipse

Acabei de fazer a minha matrícula em algumas das disciplinas obrigatórias da faculdade. Estranho como isso me fez pensar muito.
Nesse ano eu tive apenas quatro matérias, que tinham uma exigência de leitura razoavelmente grande. A previsão para o próximo semestre é de seis ou sete matérias.
Além do aumento de matérias, há a possibilidade de que eu volte a trabalhar, provavelmente todos os dias.
Isso traz uma questão interessante: como darei conta satisfatoriamente da faculdade sendo que com quatro matérias e bastante tempo livre isso já era difícil? Repare que eu disse SATISFATORIAMENTE.
Eu sinceramente tenho medo de começar a pensar nisso, uma vez que não gosto de me imaginar de novo à beira da estafa nervosa. O ideal, para mim, seria que ninguém precisasse trabalhar enquanto estuda, exceto em casos em que o trabalho faz parte do aprendizado, como nos estágios de Direito.
Normalmente dizem que o que levamos dessa vida são os momentos felizes, que passamos com pessoas de que gostamos, ou seja, os momentos em que vivemos de fato.
Mas como é possível VIVER sem ter tempo para a vida?
Muitas pessoas em nosso país não têm outra escolha a não ser trabalhar e estudar. Estudo para melhorar o salário, salário para ajudar a família, que não tem condição de se manter sozinha.
Claro, eu tinha de chegar ao ponto de dizer que trabalhamos entregando dia após dia a nossa saúde, alegria e sangue para um sistema corrupto que não permite nem que as pessoas adquiram formação intelectual de modo decente, mesmo se estas pessoas estiverem matriculadas nas melhroes universidades.
Não consigo olhar com outro sentimento que não a angústia para os prognósticos de trabalho mal-remunerado dia após dia. A idéia é repugnante.
Não que eu despreze o trabalho. Na verdade, concordo que ele dignifica o ser humano, como costumam dizer. Mas e quando o trabalho é uma imposição de uma vida que não é justa? E quando é uma imposição que atrapalhará a vida da pessoa que dele depende?
No meu caso, meus pais têm condições de me sustentar. Sorte minha? Por que outros não têm essa sorte? Em que eu sou melhor para merecer isso?
Não, eu não mereço porque não sou melhor, pelo contrário.
Não apenas não sou melhor, como sou muito mais fraco, medroso.
Provavelmente acabarei inserido nessa lógica de esforço vão em direção ao trabalho e a uma colocação na vida. Provavelmente serei infeliz nessa lógica e me sentirei muito sozinho, já que ninguém poderá dividir materialmente essa experiência comigo. Nem materialmente e talvez nem de outro modo, já que estarão todos muito ocupados sendo sugados também, como eu também serei.
Sugados pelo sistema, individualizados e sem tempo para dançar. Sem tempo para o próximo, fadados a relacionamentos vazios, fáticos/fálicos, improdutivos.
Os problemas individuais já não interessarão a nenhum outro e só nos uniríamos para, a mil mãos, compormos um réquiem para a amizade, que já mostra sinais de morte iminente.
Compremos cachorros, eles podem ser nossa única companhia sincera conforme os tempos avançam e começamos a ter mais de 20 anos. Será que daqui para frente é possível existir algo verdadeiramente sincero? Até acho que sim. Uma pena não termos pena para isso.
(Texto ruim e pessimista. Desculpem-me, OK? Eu PRECISEI escrever isso. Já já passa e eu conseguirei raciocinar com mais clareza.)