domingo, agosto 28, 2005

Sem

Meu quarto está e escuro e estou sozinho em casa. Só assim mesmo para eu meio que me obrigar a escrever. Se quisesse, teria o que estudar, mas, pela primeira vez desde o início da faculdade, experimentei uma certa aversão a estudar. Não estou estudando de acordo nem mesmo Lingüística, que é a minha matéria predileta.
Este desinteresse talvez deva-se ao estresse e à mudança na minha rotina. Antes eu tinha parazer em ir antes para a faculdade e estudar um pouco lá. Agora eu tenho acordado muito cedo e tenho estado muito cansado. A terça-feira será meu último dia no trabalho e eu ainda não consegui isolar uma razão apenas para sair de lá além do meu desconforto e o tempo precioso de estudo que me roubava. E cansaço, muito cansaço e angústia. Alguns pesadelos, noites mal dormidas.
Para quê tudo isso?
O post anterior já era uma espécie de alerta: eu penso demais sobre tudo o que me circunda, analiso demais, cobro demais e sofro demais por antecipação. Aliás, sofro demais por qualquer coisa e me sinto um verdadeido frouxo. Fraco, torpe e incapaz.
Sinto que devo ter emburrecido muito nos últimos tempos. Parece que tudo está tomando um rumo bom, mas só para os outros. Eu me sinto angustiado e angústia é sentimento de encruzilhada, desses que nos fazem empacar, tal qual o medo.
O medo ainda tem lá sua utilidade, como o nojo. Mas e a angústia?
A angústia nasce, basicamente, de modo não patológico, mediante uma indecisão. Estamos angustiados quando entre a cruz e a espada.
Este era eu. Gostava da dignidade que o trabalho me dava, gostava da idéia do salário. No entanto, abominava o cansaço, as horas perdidas, a falta de descanso, a testa tensa pela preocupação. É preciso força para agüentar a situação e eu preferi livrar-me dela.
Mas isso não seria o mesmo que assinar uma rendição?
Talvez fosse. Quero crer que estou apenas adiando uma experiência que eu cismei em ter prematuramente (exatamente como ocorreu com muitas coisas na minha vida). Quero acreditar que estou certo, que não há mal em não trabalhar para ajudar meus pais (ainda que com quatia irrisória).
Já me senti melhor, mas parece que é mais complicado se sentir bem no mundo real. A impressão que eu tenho é cruel: você dá o sangue, estuda muito, se estressa, perde saúde e cabelos, horas, dias. No fim, sobra o quê? Alguma dignidade senil e isenção de pagamento nos ônibus e trens metropolitanos.
Sei que o trabalho é necessário para desenvolver e dignificar o homem. Mesmo para manter o mundo (caduco) em que vivemos. Balela. Todo mundo sabe muito bem disso. Só não consegui delimitar o meu espaço ainda e tem sido difícil vislumbrar perspectivas favoráveis na atual conjectura.
Queria uma coisa que me desse equilíbrio: trabalho honesto, com salário justo, carga horária racional para permitir estudar. É utópico, eu sei, eu sei, eu sei.
Por isso acho que estou emburrecendo. De uns tempos para cá comecei a penar a respeito do que deveria ser e não do que de fato é. Ou melhor: passei a pensar no utópico ao invés do que, racionalmente falando, algo possa vir a ser. Odeio crer que lido com idealizações porque sei que elas só são possíveis num plano ideal, jamais em um real.
Parace que resolvi descobrir todas as minhas deficiências em uma tacada só. Para que eu tenho algum talento que se destaque a ponto de eu me animar para desenvolvê-lo?
Quando acho que estu dirigindo bem, deixo o carro morrer; quando acho que estou dominando os principais conceitos da música, vejo a entrevista de um menino de 16 anos que é solista da sinfônicaa estadual. E assim vai.
Outra coisa que tem incomodado: meu egoísmo. OK, o blog chama-se "reflexões de um egotista", mas tenho extrapolado. Quero ser generoso porque quero ser um pouco melhor. Ao mesmo tempo, tenho muita preguiça. O amadurecimento vem a duras penas e eu não tenho ânimo de encarar as coisas como parte de processo, qualquer que seja ele. Odeio a idéia de que a vida nunca vai ser perfeita, apesar de saber que não há nada mais real que isto.
Vale dizer que nem tudo tem dado errado e que não é em tudo que me sinto incapaz e fraco. Isso é mais no campo das idéias.
Em outros campos, volto à velha indagação sobre a existência de Deus. Se ele existe, que abençõe quem tem me feito bem ultimamente, quem tem me escutado, compreendido, dado força e sido paciente. Acho que ainda sou agnóstico e que, ainda assim, consigo me sentir abençoado (porque não acho nome melhor que "benção" para alguns dos últimos acontecimentos).
A algum eventual leitor deverão atingir as desculpas que acompanham esse post.Deve estar confuso, já que não reviso. Aos que não lerem, desculpem por estar tornando o mundo um pouco mais tolo com as minhas idéias fracas. Não tenho conseguido produzir nenhuma mais consistente que estas, que nunca foram suficientes para explicar coisa alguma.
Talvez eu devesse tentar não explicar nada e ir conforme os acontecimentos, sem tanto planejamento e nem previsão, aproveitando ao máximo as oportunidades. É um desafio e eles me intimidam. Tenho de largar de ser frouxo.