sexta-feira, agosto 12, 2005

Zero como ponta de iceberg e inadequação existencial

Comecemos por dizer que eu notei que o post anterior não teve comentários e isso é relevante.
Não se trata do que meus professores da faculdade dizem sobre toda a enunciação visar obrigatoriamente a alguém, a um leitor. Não o nego, mas é mais que isso. Bem mais, na verdade.
Entendo que não há comentários porque a audiência do blog foi baixa e, abstraindo a má qualidade dos textos, creio que isto deve-se ao fato de não estarmos mais em férias. Estamos todos ocupadíssimos, atolados em mil coisas para fazer, dando o sangue para ver se conseguimos algo nesse sistema que insiste em estapear - algo me traz a imagem de um carro que é acelerado para não se deixar alcançar. E esse carro é o futuro. Não futuro qualquer, o futuro bom com que fantasiamos. É bem natural que se queira um futuro repleto de louros porque estes pressupoem a vitória (o que quer que seja que vitória represente em termos axiológicos para cada um de nós).
Não tenho dado conta de continuar correndo porque sei que o carro pode, grande pretexto para satisfazer o masoquismo, desenvolver velocidades muito superiores à minha.
Tenho me sentido estranho ao mundo.
Estou trabalhando com uma coisa que não domino, em uma área em que tenho uma experiência muito limitada e pobre. Meu perfeccionismo não permite classificar meu desempenho como superior ao que eu consideraria medíocre e isso me dói e acovarda. Não me sinto seguro e estou sob uma pressão absurda, sempre criada por mim. Não é necessário que ninguém me pressione posto que eu sempre dou conta de fazê-lo por mim mesmo.
Voltando à idéia da covardia, pensei diversas vezes que não nasci para isso, que não tenho talento e nem capacidade suficiente para exercer a função que considero estar exercendo porcamente. Estabelece-se aí um paradoxo. Como esperar que eu, que sempre me senti tão confortável tendo facilidade em ser um dos melhores dos grupos que freqüento em muitas coisas, possa admitir incapacidade e falta de talento perante o que quer que seja? É simplesmente improvável que eu faça isso, mesmo que num arroubo de sinceridade, para quem quer que seja.
Mas eu o estou fazendo, o que também já é inútil.
Não há nada o que se possa fazer para mudar o que eu estou sentindo. Depende exclusivamente de mim e da minha capacidade de me adaptar à nova rotina e ao cansaço que ela me impõe.
Às vezes penso que não tenho vocação para o trabalho porque odeio como o cansaço me faz sentir. É como se nenhuma atividade que eu pudesse desenvolver, mesmo que motivado por um salário e por prazer, justificasse o meu cansaço. Ele me faz sentir infeliz e peça de engrenagem. É como se a cada empreitada que me aproximasse da vida adulta e que me roubasse horas de ócio e lazer fosse convertendo a minha vida em um inferno onde simplesmente não há vida. Onde há a quase-vida que mencionei em algum post anterior (ou em algum e-mail de desabafo, já não lembro).
Não vejo graça na quase-vida, pelo contrário. Vejo todos convertidos em pecinhas de engrenagem famintas pelo fígado alheio, motivo pelo qual não sei mais se posso confiar nos que me circundam em ambientes de engrenagens que nem sempre são todas por uma máquina.
Agora acho que só confio nas minhas amizades em que não consigo imaginar qualquer interesse que não a própria amizade. Defendo a utopia de que se deve batalhar para que a amizade seja imanente. Sua importância é ela mesma. É utópico porque, em si, sabemos que o que mantém a amizade pode ser mais que ela mesma. Na verdade, talvez ela se mantenha porque gostamos de como nos sentimos perto de nossos amigos, o que a joga para junto de outros sentimentos que regulam relações egoístas.
Ando imerso em um profundo pessimismo e a única saída (ainda que paliativa) que vislumbro é deixar as coisas como estão e agüentar como agüentaria quem teima em ser forte.
O cansaço é perceptível e a dissolução do tesão parece bastante iminente.
Talvez pudesse ter como consolo a possibilidade de contar com as pessoas que me são mais próximas, mas elas não têm muita disponibilidade de tempo nem para os seus próprios problemas. Acho que, mesmo se dividisse isso tudo, não adiantaria muito. É uma daquelas coisas pelas quais eu terei que passar para procurar um pouco de crescimento e amadurecimento, coisa que não cairia nada mal.
Só não quero ficar endurecido como aqueles que contemplo de longe. Não quero perder o gosto doce que as utopias ainda tem, nem tampouco quero me tornar um fumante que vira noites trabalhando à base de café para garantir o mercado no fim do mês. Quero uma vida legal, sem muitos excessos, posto que estes me deixam infeliz, me tem aparência de desequilíbrio e são por isso repudiados.
Se em um prazo de seis meses eu não tiver prazer no que estou fazendo serei obrigado a repensar alguns rumos que a vida acabou tomando.
A relação-chave que eu busco é prazer/dinheiro, sem querer neste ponto ser tolo a ponto de achar que vou achar uma ocupação que não tenha seus ossos. Há muito em que pensar ainda e há também a angústia de não poder me livrar imediatamente de uma situação que tem me feito infeliz.
"A vida é mesmo assim". Se é, ou não me encaixo (gauche!) ou ainda não me moldei o suficiente para tanto. O que era fácil hoje não é.

***

Dia 11 de agosto passou de novo e já se passaram três anos. Parece que as coisas finalmente começaram a se ajeitar de modo a permitir respirar um pouco, o que é bom e nós merecemos. Antes o mundo fosse mesmo movido pelo merecimento. Choraria de felicidade vendo os que merecem sendo levados em assunção. E quem é que merece? Isso é tema para um dia em que eu esteja me sentindo mais capaz de falar algo extrínseco a mim mesmo. Melhor esperar sentado.