quarta-feira, julho 06, 2005

Da reprovação e outros aspectos

Toda e qualquer tentativa de fazer algo novo é, via de regra, acompanhada de algumas dificuldades e empecilhos.
Com a prova prática do Detran não poderia ser diferente. Reprovei e acho que devo isso mais ao nervosismo do que à incapacidade de dirigir, ainda que não me considere um motorista na acepção certa da palavra. Fica a pergunta: e no próximo? Será que eu conseguirei me controlar?
Essa é uma das coisas na vida que se tem que fazer sozinho, infelizmente não tem muito a quem recorrer. Não ter a quem recorrer talvez seja uma das adaptações mais difíceis em relação à passagem da puberdade à idade adulta.
Amanhã, por exemplo, vou assistir a uma aula na escola onde vou trabalhar para ver como funciona o esquema. Quando eu for dar a minha primeira aula, serei apenas eu sozinho. Dependerá exclusivamente de mim, como poucas coisas dependeram até então.
Somada a isso, uma grande falta de confiança na minha capacidade. Falta um pouco de agressividade, de estima em relação às minhas próprias competências. Essas competências parecem só existir quando reconhecidas por alguém, o que torna bem complicado fazer as coisas sozinho. Queria não depender tanto dos outros para acreditar em mim. Isso tornaria mais fácil ser um pouco mais autônomo, além de possibilitar a redução do sentimento de que ninguém parece dar a mínima pelo que passo. Tenho a tendência a esperar um apoio de quem às vezes não está disposto a dá-lo, o que é bem frustrante.
Isso, de certo modo, relaciona-se com o fato de eu ficar chateado também quando acho que ninguém compartilha as minhas alegrias do modo como eu gostaria que compartlhassem, do modo como eu julgo que eu faria caso a situação fosse inversa.
Assim, fico revoltado contra o individualismo e o egoísmo do mundo e termino escrevendo aqueles posts intermináveis sobre o assunto, o que não cabe agora (tenho a impressão de que vou me contradizer, mas dane-se).
Cabe apenas dizer que eu queria ter mais gente mais perto e que a distância para mim é sim algo que, aos poucos, dilui os vínculos e cria estranhos.
Até faço algum esforço para trazer as pessoas que gosto para junto de mim, mas nem todos parecem estar dispostos a isso.
"Sistema maldito", diria uma amiga minha e eu tendo a concordar com isso hoje em dia. Não porque ache que deveríamos substituir esse sistema que coloca todos em busca das suas próprias realizações (mesmo que isso signifique a distância), mas por simplesmente discordar desse aspecto que afasta pessoas. Sou bem cético quanto a qualquer mudança nesse sistema, isto é, não vai ocorrer nada e tavez tenhamos que aprender a comer o fígado alheio para amealhar algumas migalhas vida afora. Não vamos criar uma sociedade que vai de mãos dadas, muito menos uma que dança entre o bonde e a árvore porque ela não parece possível. No máximo, dançaremos em boates e já sem muita alegria. E cada um que pague o seu se puder, porque, afinal, é bem caro e ninguém trabalha para sustentar ninguém. (É caro para "selecionar" o público...)
A imagem de pessoas dançando (em Drummond) é linda, mas me parece utópica e, até por isso, vem acompanhada de uma melancolia intensa. É intensa porque vejo a real situação do mundo ou porque me considero incapaz para esse mundo por não saber a quem matar para conseguir as coisas que quero?
Como sempre, provavelmente, há algo de egoísta no que revolta, o que é bem lógico. Cada um responde pelo seu próprio ponto de vista (e só por ele!) e pelas respostas aos estímulos empíricos, isto é, cada um apreende a realidade de uma forma e, em si, já se esboça nisso algum caráter subjetivo. Por isso não existe o objetivismo absoluto e por isso é que surge ainda alguma revolta nos que vêem em si mesmos engrenagens de uma rotina desumana e automatizante, inadequada aos que se parecem comigo, pelo menos. É mais ou menos um especto "gauche", não é? Algo da inadequação...
Ah, que pretensão. Nem no exame passei e tenho a audácia de querer achar algo de Drummond na minha vida. "Eta vida besta, meu Deus"!