quarta-feira, março 14, 2007

Mal do mundo nº 2

Não o culpo por sorrir pouco, pois é sabido que seu sorriso é feio, borrado, coberto da ferrugem que se acumula sobre os homens com o decorrer dos anos. Ferrugem também em seu corpo de ombros sempre curvos, e pernas e braços cruzados, em esforço para ocupar sempre tão pouco espaço quanto possível. Aparência doente. Decididamente, gado nômade na Somália.
Os olhos, egípcios e sempre observadores, desenhados a lápis, são duros e contradizem sua ternura inerente, tornando-se irremediavelmente torpes, com expressão pouco saudável - ar oprimido, de recalque - necessidade de sobreviver?
Por feio e pela feiúra, não consegue escape nem mesmo em sua inocuidade: dentro, a vida pulsa insistentemente e, não fossem as limitações impostas, viria aos borbotões, inundando tudo, arrastando as casas, os carros, a iluminação pública, lavando definitivamente o azinhavre que despoja o cobre de sua cor avermelhada, enlace de metal e sangue vivo.