domingo, outubro 24, 2004

Assuntos que obumbram a minha cabeça

Hoje

O dia hoje arrastou-se e fazia tempo que eu não tinha tanto tédio.
Fiz umas idiotices tipo ligar para pessoas sem ter o que falar. Às vezes pode ser muito bom, mas não quando você as interrompe de dormir ou de comer. Ando escolhendo mal as horas para ligar.
Ontem teve simulado e acho que fui bem, o que é ótimo porque me deixa mais confiante em relação à Fuvest. Aliás, vale abrir um subtítulo para falar sobre ontem.

Ontem - parte I

A Flávia, uma amiga da minha irmã veio aqui. Minha irmã nem estava e nem foi legal só pelo fato de a Flávia ser muito divertida. Foi muito bom porque eu me senti útil. É tão legal.
Ela trouxe um texto que ela tinha escrito para ver se eu podia ajudá-la a melhorar. No texto, ela tinha que explicar para uns gringos, que eram clientes do escritório onde ela trabalha, como funciona a legislação trabalhista do Brasil no que se referia ao impreendimento que eles planejavam montar. Ela dizia o que queria passar para eles e íamos meio que burilando os parágrafos todos. Foi muito bacana porque acho que consegui ajudar. Fora isso, comemos pizza.


Ontem - parte II

(daqui para baixo, são coisas nas quais eu pensei loucamente depois de uma conversa com a minha mãe)

Tenho novidades em relação ao meu cunhado.
Aqui em casa temos uma faxineira, a Madalena. Bom, indo direto ao assunto, a minha irmã comentou com ela que o meu cunhado não se sentia bem de vir aqui em casa devido à raiva que eu tenho demonstrado ter dele. A Madalena contou isso para a minha mãe e minha mãe, para mim. Inicialmente, fiquei meio chateado. Não gosto nem um pouco de magoar a minha irmã, mas depois comecei a ponderar. Em certos lampejos de lucidez que tenho, consigo ser imparcial em relação a um julgamento no qual eu posso ou não me perdoar. Perdoei-me e condenei minha irmã. O fato de eu ter raiva do meu cunhado começa exatamente no erro dela: trazê-lo demais aqui para casa. Com o antigo namorado era igual, mas calhou de nós nos darmos bem, de termos nos tornado amigos, coisa que não aconteceu com o atual.
Ando, portanto, mais tranqüilo: não me sinto culpado porque tenho direito ao mínimo de privacidade dentro da minha casa. Além disso, estou mais aliviado porque a partir do momento que eles evitam ficar aqui muito tempo, a nossa convivência tenderá a melhorar. Motivo de comemoração.
Com o negócio do anúncio do casamento deles para maio de 2007, surgiram alguns problemas. Não sei se é do conhecimento de todos, mas meus pais não se dão bem e há certo medo de que meu pai prefira não ir à cerimônia a fim de não encontrar com a minha mãe e nem com a família dela. Minha reação a respeito disso? Ela continua importando pouco, mas vou dizer: uma pequena tristeza, certa mágoa e raiva devido ao egoísmo e à falta de coragem. Já me prometi algumas vezes que não interviria nisso porque só me traria dores de cabeça e planejo manter essa posição. Se necessário, quem levará minha irmã ao altar serei eu.
Ainda sobre meus pais, a correspondência do meu pai com a "última proposta" para o divórcio consensual chegou na sexta-feira. Era uma carta com o timbre dele e com AR, como uma carta comercial, o que denota uma formalidade que me incomoda profundamente... Afinal, por que ele insiste em manter-se tão distante? Sei que é utópico querer que ele e minha mãe sejam "melhores amigos de infância" dignos do seriado Sandy e Jr., mas acredito que, enquanto adultos, poderiam tentar uma relação minimamente amigável posto que eles têm a mim e a minha irmã em comum. Às vezes me parece até que ele não quer uma relação muito próxima nem comigo e nem com a minha irmã.
Por outro lado, em balanço, noto que ganhei a simpatia de muita gente que não ia com a minha cara e eu estou achando muito bom. Descobri que ninguém é tão fantoche nem tão fútil e nem tão estúpido quanto eu achava que fossem. Muito bom isso. Talvez sirva para eu aprender que nem sempre o que eu julgo ruim é ruim de verdade. Tomara que também sirva para eu aprender que pessoas que eu julgo muito legais podem terminar me deixando com muita raiva, principalmente... (ah, esqueçam! Ia dar uma indireta aqui, mas melhor omitir). Já conteceu e está enterrado. Em cova rasa, mas está. Bom saber que muitas coisas podem mudar às vezes.


Para quem disse que meu gosto musical estava indo ladeira abaixo, TOMA! (rs)

Construção / Deus lhe pague

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio naufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o Sábado


Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague
Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague


(Chico Buarque de Hollanda)

("Construção" é genial, mas eu gosto ainda mais de "Deus lhe pague", que á parte em itálico)

Caramba, como o post ficou longo. Desse eu gostei.