domingo, abril 30, 2006

Hedonismo e carência (o retorno)

Esse negócio de ficar é ótimo mesmo. Você pode ter absolutamente todos os prazeres lascivos que antes dependiam de namoro sério ou casamento em uma noite, com uma pessoa de quem você não sabe o nome, não faz questão nenhuma de saber e para quem provavelmente você não ligará no dia seguinte.
As pessoas saem e vão para as baladas -- porque balada é de fato a melhor coisa do mundo. Os jovens adoram; sentem-se quase impelidos a irem sempre, o maior número de vezes por semana possível. O ambiente é agradável: muita fumaça de cigarro, gelo seco, música, bebida, bêbados, gente vomitando pelos banheiros, pessoas querendo fornicar por todo canto. É estranho que um jovem não queira ir a um lugar assim para escutar as músicas de que todos gostam e de que todos têm de gostar para agir do modo que todos agem e que todos devem agir.
Bom, aí vem o ficar, que também é comportamento que todos devem ter. Devem ter porque é ótimo não ter compromisso com ninguém e não correr o risco de simplesmente enjoar da pessoa com quem você está. Se você está com alguém e já não mais quer estar, você já não está mais. Simples assim. Sentimentos não são envolvidos. É um festim em honra do hedonismo.
E o que não é hedonista hoje em dia, não é mesmo? (Hedonista no pior sentido, é claro.)
E, claro: há os que não se encaixam tão bem nessa lógica do não compromisso.
Esses vagarão cada vez mais sensibilizados e machucados. Maltratados pela vida e pelas desilusões, cada vez mais serão doentes de car~encia e idealizarão relações ideais como o remédio para os seus problemas. Serão ciumentos e possessivos, apaixonar-se-ão sempre e em pouco tempo. O desprezível eu te amo em segundo encontro, que levanta desconfiança e causa impressão de doença.
Bem isso mesmo: coisa de doente.
Não que seja menos doente quem se encaixa no padrão do cabelinho-com-gel porque acha que deve usar cabelinho com gel.
E são, quem é?