domingo, março 23, 2008

A maioridade de Robson Cruz

Caminhava pela calçada de cimento e pedra já havia uma hora e meia. Sua orelhas e mãos haviam esfriado devido ao vento, que lhe gelava os ossos. As articulações doíam. As têmporas batiam.

A garoa começara havia pouco e caía diagonal sobre seu rosto fino branco pálido femino. Em breve estaria ensopado. Sobrancelhas contraídas, prenúncios de pele gretada. Era feio, o pobre.

Nos ônibus, as pessoas se amontoavam. Eram 18h, e as luzes dos carros formavam colares de contas vermelhas Av. Rebouças acima. As pessoas enjauladas entre as janelas embaçadas dos ônibus. Várias pessoas nos ônibus. Tristes transeuntes sem nome. Ônibus laranja, ônibus azul, ônibus amarelo, ônibus, ônibus, ônibus.

Terminara o trabalho e passara no banco para carregar o telefone. Deixara cair molho no uniforme. Passara sabonete líquido na mancha já seca na hora de seu intervalo, para esfregar quando chegasse em casa.

O freio dos ônibus, a primeira marcha, o freio dos ônibus - a luz amarela na tarde. Estaca-se.
Há que se acordar às 5h45 para chegar no trabalho. O trânsito é impossível depois das 6h30. Cada vez mais impossível - engessado. A conta de luz vence todo dia 10, e este mês a comida está pela hora da morte.

Tinha 18 anos e havia dois meses que tinha uma conta no banco. Toda quarta-feira comia picadinho apesar de odiar carne cozida. Nesse dia comprava também uma trufa, que lhe fazia esquecer do sabor da carne que se lhe enterrava entre os dentes e o aço do aparelho.

Subia a Rebouças sob a chuva. Sobre seu asfalto úmido, o longo colar de imobilidade escarlate.
Tinha 18 anos e seu próprio headset na mochila.
Era terça-feira, dia 27 de maio de 2008.
Eram 18h.
Arfava.
Chovia.
-Acre é o ocaso da vida.