quinta-feira, abril 21, 2005

As razões por que mando um sorriso

"A razão por que mando um sorriso
E não corro
É porque andei levando a vida
Levando a vida quase morto"

(Paulinho da Viola - Para um amor no Recife)

Eu tenho levado a vida assim, quase morto.
Ando triste, é fato. Mas ando também com raiva, muita raiva por me sentir triste. Eu não deveria estar assim, mas parece faltar força para largar mão disso. Tem sido uma fase de grandes mudanças e as minhas adaptações normalmente levam algum tempo. Tenho certa dificuldade de lidar com o que é novo, sobretudo com uma realidade nova que não me agrada muito: a distância.
Estou distante (ou ainda mais distante) de muita gente, sendo que, dentre essas, há aqueles que me serviram de referência por anos e anos a fio, aquelas que me apóiam, dão força. Pode soar injusto com os outros, mas em alguns momentos me sinto muito sozinho e isso não se deve apenas aos horários e à vida que parece conspirar para levar as famílias ao estado apático do anonimato dentro de casa (da minha casa, mais do que nunca). Simplesmente sinto distância, sinto que cada vez nos apartamos mais e definitivamente a sensação não é boa. Falta gente com quem contar porque me parece faltar interesse sobre mim, sobre o que faço ou deixo de fazer, se como, se durmo, se feliz ou triste. Sei que já tenho 19 anos e não sou um bebê. Não entendam que eu sou dependente ou que assim quero ser. Entendam apenas que eu gostaria de ter a impressão de que sou importante para alguém nesse mundo. Às vezes isso é muito claro, mas em outras vezes eu levo essa dúvida ao extremo de me perguntar qual é exatamente o meu valor frente aos outros. Não é raro achar alguém tão mais apaixonante, tão mais carismático do que eu. Quanto a mim, parece que sou sem sal e que desde sempre fui coberto de ferrugem.
Repito: isto é um extremo de pensamento. Um extremo desses que são constantes quando a vida não anda lá muito equilibrada.
Tem andado desequilibrada porque tenho tentado me adaptar ao cansaço que a faculdade impõe e também às responsabilidades novas. Tem andado desequilibrada porque já não sobra tempo para o conservatório e eu escutei um “tá horrível, você já não é mais nem sombra do aluno que costumava ser” esses dias, o que foi terrivelmente frustrante. Já decidi: não tocarei em audição alguma e este deve ser o último mês no conservatório. A saída paliativa encontrada tinha sido dar um tempo com a teoria, mas esta saída se mostrou ineficiente. Não consigo suportar a disposição repentina do Márcio em me ajudar a enganá-lo: “Olha, essa música... Treine e, quando você se sentir confortável com ela, me mostre”. Francamente, a esmola me ofende. Não suporto a idéia de não ser um bom aluno (ou pelo menos de não conseguir me aplicar) no conservatório e suporto muito menos a idéia de fazer as coisas pela metade. Talvez seja melhor mesmo dar um tempo sem, no entanto, perder os calos.
“Ao que parece, você já está com um pé fora daqui e um dentro...” Pois é. Acho que decidi tirar o pé que está dentro. Eu sou exigente comigo mesmo mas, felizmente, eu sei que não posso abarcar o mundo.
Eu me toquei de uma coisa: eu exijo de mim até controle grande de emoções e as sufoco (sabe Deus a que custo). Talvez eu deva ser um pouco mais maleável e perceber que eu sou bem humano e que tenho sim o direito de sentir as coisas, por mais estúpidas que elas sejam. Ótimo... Acabei de assumir aqui uma coisa da qual eu sempre fugi de assumir: eu sou realmente estúpido às vezes. O que me consola é que todo mundo é pelo menos um pouquinho e, em alguns casos, há pessoas que parecem se empenhar full time nisso.
Talvez seja hora de arrumar força e correr ao invés de mandar um sorriso tão falso quanto os que eu tanto condeno.

sábado, abril 09, 2005

Post bobo

Primeira novidade é que o Márcio, meu professor de violão, me convidou para tocar na próxima audição. Deverei tocar Corcovado (Tom Jobim!). Junto comigo, a Laura, professora de piano e violão, tocando flauta tranversal (nada mais charmoso...) e também o professor de bateria fazendo uma coisa mais jazzística. Deverá ficar bem legal. O problema é que eu vou cantar e tocar. Tá, eu consigo fazer os dois, não sou tão limitado assim e nem a música é tão complicada. Só não sei se canto bem o suficiente para me apresentar em frente a umas duas centenas de pessoas cantando. O convite do Márcio foi feito em meio a um monte de elogios a respeito da minha técnica, gosto para música etc. Os elogios, segundo ele, vieram não só dele, mas também de outros professores. Fiquei feliz da vida.
O único porém é que eu já não sei se acredito em elogios gratuitos assim. Isso tudo veio depois de uma decaída do meu rendimento devido à falta de saco para as escalas e campos harmônicos somada ao encurtamento do meu tempo devido à faculdade. Será que ele não fez esses elogios só para ver se me encoraja a me manter no conservatório? Ao mesmo tempo: será que eu tenho mesmo uma técnica boa assim e só acho que não tenho porque exijo muito de mim mesmo? Já nem sei. O que eu sei é que estou tremendo na base. Não sei se aceito o convite ou não (isso porque eu assumo que tenho medo de enfrentar situações novas). Mais do que isso: continuo no conservatório ou não?
Estava decidido a parar, mas agora... sinceros ou não, os elogios do Márcio conseguiram me estimular bastante. Fora esses, recebi outros, mas menos relevantes.
Uma segunda coisa que aconteceu é que eu me toquei que tenho sido muito chato. Meus últimos estão soando horríveis para mim. Além de achar que ando com uma tendência absurda ao melodrama, eu ando monotemático. Encho o saco de vocês com coisas que não explico e que não tem como vocês ajudarem. Mas é que não tem sido fácil. As pessoas sobre as quais falo mudaram, mas o problema ainda é a mentira. Melhor dar nome aos bois. O principal boi agora é ninguém menos do que a minha mãe. Mentira, descaso, apatia... Tudo relacionado a ela. Antes eu estivesse realmente dando importância a quem não tem. Não gosto de me afastar dos outros, mas não se pode ficar perto de quem parece não querer proximidade. É difícil encarar esse fato às vezes. queria que as coisas fssem mais fáceis.
Também fiquei doente essa semana mas estou curado. Deve ter sido algo que eu comi e me fez mal. Talvez um sapo.
Fora tudo isso, não posso deixar de mencionar os três presentinhos gratuitos, esperança do mundo, que eu ganhei. São três CDs: um deles é a trilha sonora do De-lovely, o filme sobre a vida do Cole Porter; o segundo é do Michael Buble, cantor jazzístico em ascendência atualmente. Já o terceiro, é uma compilação que eu adorei. Presente fantástico! Quem enviou o presente mereceria menção muito honrosa aqui, mas, infelizmente, ele não freqüenta este blog. Bom, de qualquer modo, devo agradecer. Eric, thank you so much!
Enfim... É só.

sexta-feira, abril 01, 2005

Sobre ter virado moda que me escondam as coisas

Depois de uns três posts monotemáticos, mudemos pelo menos o foco deste. Entendam por foco a pessoa que me fez escrever e as suas atitudes como causadoras de reflexão. Sim, mudemos o foco sem mudar o tema. Continuemos com a mentira e incluamos a omissão, o que denuncia a total falta de criatividade para temas do que vos escreve. O dia no qual escrevo sobre a mentira também não poderia ser mais propício. Seria até coincidência se eu não estivesse escrevendo freneticamente sobre isso há uns tempos.
Comecemos por dizer que sei que a mentira é necessária às vezes porque a sinceridade deve ser seletiva. Até que ponto cada um de nós agüenta ouvir toda a verdade? Mais do que isso: até que ponto não é mais cômodo não saber as verdades, mantê-las debaixo do tapete?
Bom, acontece que tem horas que não há mais lugar debaixo do tapete e tudo começa a parecer movediço. Já não há confiança na boa-fé das pessoas e já não há mais nada que dê o norte à capacidade de depender. Tudo torna-se um grande ponto de interrogação que, faminto, devora todo o alento interior que as omissões tinham sustentado até então. Castelo sobre areia fofa. Um mundo até então sem grandes hipocrisias e sem falsidade torna-se todinho relativo e feito contra aqueles princípios que são sempre lindos na teoria: verdade, justiça, lealdade, honestidade, retidão, austeridade, etc x etc = etc².
Já não há mais espaço para a omissão e mentiras. Já não há espaço para algumas dúvidas em mim. Quero verdades, preciso de algumas respostas. Odeio a covardia dos que tapam o sol com a peneira unicamente pelo medo da desaprovação de outrem. Lê-se nas entrelinhas que há algo de errado no ar e a imaginação tende a ir longe criando evidências, percebendo o que não existe, torturando a mente já inquieta devido à dúvida. Não quero mais ter dúvidas, pelo menos sobre esse assunto que vem me incomodando. Há coisas que estão mal explicadas já há uns três anos e, se for para explicá-las de modo plausível, vou fundo. Cansei de ver as peças faltando, quero todas. É preciso saber se tenho condenado alguém injustamente por anos a fio por um ato que, por erro de compreensão, pode ter variado de absolutamente misericordioso a condenável e repugnante.
Resta apurar. Resta também reavaliar as pessoas nas quais eu confio, já que isso tem consistido em grande fonte de decepção. No mais, desculpem. Estou cansado. A faculdade tem roubado não só importantes horas de ócio criativo, mas também a energia para escrever. Não é reclamação. Talvez seja só mais uma prova de que existe a providência divina. Não é um momento bom para eu ter a cabeça vazia e poucos compromissos. É chegada a hora de dinamizar um pouco a minha vida e alçar vôos um pouco mais distantes do ninho. Talvez olhando o ninho de longe eu perceba que se trata mesmo de uma barca furada, que é melhor saltar dele porque qualquer esforço de salvá-lo não será mais do que estéril (sentimento atual, infelizmente).
Além disso tudo, eu confesso: odiei esse post. Achei um pouco mal-escrito. Estou cansado.
Já planejo um próximo post que talvez verse sobre a relativização do processo de "enfilhodaputamento" das pessoas.

***

O Marcelo Camelo tem mesmo muito talento. Será o nosso próximo Chico Buarque? Tomara que não, ninguém precisa de outro Chico. Só de outros tão geniais quanto ele, cada um à sua maneira. Enfim... olha só o que ele escreveu:


Santa Chuva

(ele)
Vai chover de novo,
deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar,
E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus,
mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim,

Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar,
Não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade

(ela)
Quem é você pra me chamar aqui se nada aconteceu?
Me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez?

Cadê aquela outra mulher?
Você me parecia tão bem,
A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar,

Quem foi que te ensinou a rezar?
Que santo vai brigar por você?
Que povo aprova o que você fez?
Devolve aquela minha tv que eu vou de vez,

Não há porque chorar por um amor que já morreu,
Deixa pra lá, eu vou, adeus.
Meu coração já se cansou de falsidade.

***

Meio desnecessário dizer que eu, às vezes, sou (ela).