domingo, janeiro 29, 2006

Sobre o amor

Desde sempre falamos sobre o amor.
Falamos, discutimos e nos submetemos a definições que tendem a esbarrar na cafonice.
Há poemas horrendos sobre o amor. Há aquele sentimento meloso e enjoativo que transpira felicidade que mostram na novela. Aquilo é amor?
Chegamos até mesmo a dividir o amor: fraternal, maternal, erótico/romântico et cetera.
Essas divisões são orgânicas? Expressam realmente a realidade? Ou são recortes que implicam uma forma distorcida de ver a questão? Eternas perguntas do nosso mundo.
Amor fraternal e romântico, por exemplo. Qual é a diferença?
Mais que isso: QUAL É A DIFERENÇA, CACETE?!

sábado, janeiro 21, 2006

Sobre o assassinato do maniqueísmo

Às vezes tenho a impressão de que existe alguma entidade que organiza o mundo e que é desse modo que se configura nele alguma lógica.
Ainda sou cético, entretanto, visto que há a saída pela tangente: coincidências existem, é claro.
Não vem ao caso se Deus existe aqui. Não desta vez, ao menos.
Só menciono isso porque às vezes eu pareço trombar com o mesmo assunto por diversos canais e de diversas formas em um curto espaço de tempo, como se tudo aquilo tivesse sido concatenado de modo a provocar reflexão.
No caso de que eu pretendo tratar, surpreendentemente, não há minha participação. Eu soube por terceiros do caso. Haverá aqui também uma relativa intertextualidade com um dos posts do Bernado (linkado aí ao lado).
Em ambos os casos -- no que me contaram e no texto do Bernado -- o assunto sobre que se discorreu foi a impossibilidade de conhecermos de modo pleno as pessoas e as decepções e frustrações que isso desencadeia.
Por mais que gostemos de alimentar ilusões, uma coisa é certa: o ser humano tende a nos surpreender sempre que julgamos conhecê-los bem.
Nesse ponto peço a um eventual "quem-ler" que me perdoe. Talvez eu soe enfadonho, exatamente como costumo soar pessoalmente.
Peço desculpas pois discorrerei sobre alguns pontos que provavelmente não interessarão a ninguém além de mim. Dane-se! Você não tem que agüentar. Pode abrir um site de sacanagem antes de temrinar de ler isso e se deleitar cegando seus sentidos com a pornografia.
Ao assunto:
De um tempo para cá, sempre que penso em conhecer com profundidade as pessoas, eu lembro de uma comparação feita pelo Antonio Candido (tão conhecido dos estudantes de teoria literária) entre as personagens de um romance e as pessoas com que convivemos.
Segundo ele, as personagens de um romance tendem, mesmo por uma questão de economia inerente à Literatura, a serem desenhadas em poucos traços, com poucas características bem marcantes e que poderiam, em última análise, resumir a personagem.
Assim, as personagens permitem que um eventual leitor as abarque de modo a sabê-las por inteiro.
Cabe lembrar, entretanto, que os romances têm raiz no pensamento filosófico do século XIX, que propunha um certo mecanicismo e relações de causa e conseqüência que governariam todas (ou quase todas) as instâncias da vida humana.
Nesse sentido, é possível entender que a personagem do romance normalmente tem um comportamento coerente com a sua índole e com as impressões que o autor nos faz ter sobre ela.
Ainda de acordo com o Candido, as pessoas reais não são tão facilmente abarcáveis quanto as personagens de romance. O comportamento humano seria multifacetado, heteróclito e, portanto, inabarcável em seu todo.
Desse ponto de vista, temos aqui os famosos clichês sobre a personalidade: a idéia de que todo mundo possui um lado bom e ruim. Mais até: um lado generoso, um egoísta, um ciumento, um devasso, um sovina, um gentil... A idéia tende ao infinito.
Sendo desse modo, por que ainda nos enganamos achando que conhecemos bem as pessoas?
Talvez seja confortável pensar que o mundo é resumível ao maniqueísmo simplista dos bons versus os maus.
Nem branco e nem preto. Provavelmente a idéia que nos colocará mais próximos da realidade é de que o que existe, em verdade, são escalas de cinza, na qual os seres humanos transitam com uma variedade absurda de possibilidades.
Sabendo disso, deveríamos estar preparados para qualquer reação dos outros e de nós mesmos, já que causa e conseqüência não conseguem explicar tudo em um mundo real.
Desculpem-me se abusei da paciência ao falar sobre isso.
Só achei que poderia ser útil aos outros como é útil para mim quando me decepciono.
No geral, gosto de pensar que, apesar de todos termos um lado mais sombrio e cheio de características absolutamente desprezíveis, devemos procurar mostrar o lado cheio que qualidades.
Raciocínio utópico.
Vez ou outra, pela vida, teremos de encarar a feiúra das faces que algumas pessoas escondem. Decepção, frustração, sensação de ter sido enganado? Talvez pensar que todos temos um lado ruim e que nós às vezes também somos causadores de decepção possa ajudar a entender que o mundo é muito mais relativo do que pensamos.
Talvez também ajude a entender que a decepção às vezes é causada por um ato falho.
Só não ajuda a entender e nem perdoar as pessoas que parecem não possuir a menor sensibilidade e vontade de melhorar. Estas provavelmente viverão e serão lembradas sempre enquanto um idiota qualquer escrever um post como esse.
No mais, sono. Muito sono.