sexta-feira, maio 27, 2005

Sobre a minha insegurança

"A minha vida tem um garoto chamado Filipe
Ele é a cobra do meu paraíso
Ele é a dobra do meu paraíso
Ele é a sobra do meu paraíso
Ele é a sombra do meu paraíso
Ele é a cobra
Ele é a cobra
Ele é a cobra"

(excerto retirado de Cícero e Marina, de Antônio Cícero e publicado aqui com uma pequeninda adaptação minha)

***

Qualquer coisa para retirar o último post do topo da página. Houve vezes em que tive a impressão de que ele estava bom e que a analogia nem era de tão mau gosto. No entanto, as vezes em que me senti meio que envergonhado por ter abusado do melodramatismo me influenciaram mais acentuadamente. Nego-me a deletá-lo, mas saibam que eu me divido quanto ao conceito que faço quanto ao post em questão. Retirando-o do topo da página talvez eu fique mais tranqüilo.
Se eu não deleto é porque, apesar de a Elisa ter me alertado para o mau gosto da analogia, eu recebi alguns elogios para este blog. Faço como qualquer pessoa com personalidade muito forte: fico numa dúvida cruel por não saber o que pensar. Lasque-se!
Enquanto eu não aprender que o que importa não é causar uma imagem e sim ter uma imagem, tudo o que eu fizer vai soar artificial, tão tosco quanto o post anterior. Queria não me preocupar tanto com o que acham de mim. Quaria conseguir não me preocupar com o que as pessoas mais cretinas acham de mim. Sim, só me preocupa o que os mais cretinos acham. Os outros adivinham desde o começo o que sou, ao que parece. Adivinham que sou um tiquinho mais passional do que aparento, um tiquinho mais descontraído do que se julga e também menos austero do que eu gostaria de ser e parecer.
Tenho algumas novidades.
Tenho uma possibilidade que parece boa de emprego como professor de inglês. Isso traz algumas dúvidas que só farão sentido se eu tiver passado naquele teste imenso de proeficiência que me deram para fazer:
Será que de fato eu tenho conhecimento e didática para dar aula de inglês? Será que eu consigo dar conta do recado satisfatoriamente? Quero dizer... Senti-me tão burro por não saber algumas das coisas que me foram pedidas no teste. Eu me sentiria como o último ser humano da Terra se julgasse não estar realizando bem o que me propus a fazer. Foi por isso que larguei o Anglo, foi por isso que larguei o conservatório.
Outra: será que de fato vai funcionar? A faculdade ocupa muito do meu tempo. Trabalhar vai fazê-lo escassear mais ainda.
Fora as dúvidas, algumas vantagens parecem muito boas. Terei um salário para ajudar em casa, poderei comprar algumas coisas para as quais me falta coragem de pedir dinheiro à minha mãe (até porque sei que dinheiro não está fácil para ela). Sei também que caso seja contratado, vou aprender muito e ganharei muita experiência.
Outra coisa que eu sei é que essa insegurança é normal. Eu sou a dobra do meu paraíso. Qualuqer outro estaria animado com a possibilidade de emprego. Por que diabos eu tenho que ficar pensando e fazendo a pesagem de prós e contras para tudo? Às vezes gostaria de requerer meu direito de ser impulsivo, direito quase adquirido dos jovens. Se bem que a juventude anda tão morta, cansada da mais-valia. Logo eu também estarei exausto devido a ela, tanto quanto o Satélite do Manuel Bandeira. Logo que tiver algo novo a respeito disso, postarei aqui.

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Tenho orgulho de ter pintado esse quadro. Tenho orgulho de algumas coisas que fiz mesmo que às vezes essas coisas pareçam não despertar qualquer coisa em ninguém. o que consola é que eu já tive contato com alguns dos poucos que sabem valorizar essas coisinhas.

sábado, maio 14, 2005

O aspecto mulher-de-malandro

A vida é mesmo irônica.
Estava no ônibus a caminho da faculdade quando, ao meu lado, pobre homem, não agüentou e puxou assunto. Revelou-me ser serralheiro ter mais de 40 anos e que a tinha sido deixado pela mulher com quem vivia havia um ano e três meses. Esta o havia deixado e, de quebra, tinha levado a filha e os móveis todos para a casa da mãe. Ele, aparentemente bom homem, estava recomprando tudo e disse-me que terá o maior prazer em dar a pensão à filha caso o exame de DNA comprovasse mesmo a paternidade.
O homem garantiu que nunca havia encostado a mão na mulher, que ela havia ido embora após uma simples discussão e ela disse que só volta com ele se eles forem morar na casa da mãe dela. Conforme a conversa fluía, ele acabou me revelando que havia sido casado antes durante vinte e três anos e que tinha uma filha que fora abandonada pelo marido com 3 filhos para criar. Disse também que o seu casamento anterior, o que durou vinte e três anos, acabara devido ao ciúme que a esposa sentia dele e não devido às pancadas que ele, vez ou outra, dava nela. Ela mesma dizia, segundo ele, que era normal que o casal brigasse, mas que era para ele não sair de casa. Esta mulher, a que apanhava, vai procurá-lo até hoje no serviço para ver se não voltam. Segundo ele, não.
Óbvio que o homem não estava se agüentando e precisava falar. Quem seria eu para impedir? Tinha mais é que escutá-lo, como Olívia a Eugênio, ela sempre pronta a entender toda a feiúra dos atos dele, feiúra de atos humanos, própria dos humanos.
Primeiro pensei na ironia da vida. Será mesmo que estamos fadados a manter na cabeça apenas os que nos fazem mal e deixarmos em segundo plano quem parece ter quase que uma veneração cega por nós? Inútil divagar sobre isso, é uma daquelas perguntas sem resposta.
A divagação mais produtiva para mim foi sobre a minha tendência de ser quem apanha. Eu entendo as mulheres-de-malandro. Talvez elas não sejam simplesmente omissas em relação a si mesmas, talvez, em alguns casos, simplesmente consigam ver o caráter de fraqueza humana que existe por debaixo da chuva de pancadas. Talvez sejam mais resistentes às manifestações do lado ruim de cada ser ou apenas acabem relevando porque gostam do que as espanca. Quem pode dizer que não? Quem de nós não é, ao menos um pouco, mulher-de-malandro? Eu, pelo menos, assumo meu quinhão que apanha. Apanha, suporta e, com o tempo, idiota, perdoa. Tenho tanta raiva de perdoar e esquecer o que eu passei quanto tenho dessas mulheres horrivelmente fortes. Não quero ser fiel feito um cachorro que lambe as mãos do dono após um chute.
Dizem que o perdão é coisa de gente grande. Se é assim, porque me sinto tão idiota por esquecer, relevar, perdoar. Parece mais falta de amor próprio do que grandeza de espírito. É, talvez seja (seja o quê?). Odeio questionar isto, é secar gelo. Talvez o meu incômodo quanto à indecisão sobre o perdão resida no meu questionamento profundo em relação aos principais valores católicos. Em algum momento na vida, os homens acabam questionando uma parte do que lhes foi incutido na cabeça desde a infância. Gosto de pensar que isto em si já demonstra alguma grandeza. Grandeza que os que não se questionam e não se analisam não têm, gosto de crer.
O perdão apareceu hoje de tarde também, quando eu, zapeando, assisti a uma cena de A Usurpadora. O Carlos Daniel perdoou a Paola (que estava em seu leito de morte) mesmo depois de todas as maldades que ela fez (sabe Deus quais foram...). Queria ter conseguido ver mais do que frouxidão no Carlos Daniel. Queria ter visto nele a grandeza que eu gostaria de achar em mim por perdoar. Queria não ter tido a impressão de que a Paola iria levantar-se da cama e rir dele por achá-lo frouxo.

***

Já falei que, apesar de gostar do nome dele, não vou com a cara do Bento XVI?

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Espero que tenham gostado do upgrade do blog. Ficou um pouco menos morto. A única pena é eu ter perdido os comments, mas paciência. Com o tempo eu hei de conseguir mais... ou não.

quinta-feira, maio 05, 2005

Notícias

Digamos que eu não tenho achado ânimo nem tempo e muito menos assunto para tratar aqui. Pela primeira vez, eu não tive, durante mais de dez dias, nenhuma experiência que podria eventualmente se converter em um post. Não sei bem o que acontece. Nem sei mais se quero manter o blog. O que eu sei é que, se eu optasse por largá-lo, muito poucos sentiriam falta. E na verdade isso deveria importar pouco (enquanto sabemos que, na verdade, importa mais do que eu gosto de assumir).
Tenho algumas novidades:
1- larguei o conservatório por todos os motivos que eu tinha citado no post anterior e mais alguns. Não estava mais funcionando. Conversei com o Márcio e ele foi hiper compreensivo comigo em relação aos meus motivos. Saí numa boa.
2- vou tirar carteira de motorista. É, com o dinheiro do conservatório, vou poder pagar auto-escola. Pessoas, preparem-se, o mundo nunca mais será seguro.
3- fiz minha primeira prova e não poderia ter começado melhor. Foi prova de Lingüística, que é a minha matéria preferida. Não tive que me matar de estudar porque vinha lendo todos os textos, prestando atenção às aulas, anotando tudo, etc. Eu estava preparado, ao contrário do que deverá acontecer na prova de estudos Clássicos. Bom, o esquema da de clássicos é diferente, ao menos. O professor entrega a prova e você leva para casa para responder... LEVA PARA CASA A PROVA!
4- estou adorando a faculdade, apesar de demorar séculos para chegar até lá. Minha vida se disciplinou um pouco mais agora. Até de comer doce e tomar refrigerante eu larguei. Tudo naturalmente, sem fazer esforço, apenas baseado na falta de tempo. Meus dias parecem ter encurtado de certo modo. Nunca freqüentei tanto uma biblioteca como ando freqüentando a nova (e chiquérrima) biblioteca da FFLCH. Gosto daquele lugar.
5- vou ter que fazer um trabalho de análise de poema. Tem que ter ao menos 6 páginas, isto é, vou ter que tirar leite de pedra.
O poema que eu escolhi para analisar chama-se satélite e é do Manueal Bandeira.


SATÉLITE

Fim de tarde.
No céu plúmbeo
A Lua baça
Paira
Muito cosmograficamente
Satélite.


Desmetaforizada,
Desmitificada,
Despojada do velho segredo de melancolia,
Não é agora o golfão de cismas,
O astro dos loucos e dos enamorados.
Mas tão-somente
Satélite


Ah Lua deste fim de tarde,
Demissionária de atribuições românticas,
Sem show para as disponibilidades sentimentais!


Fatigado de mais-valia,
Gosto de ti assim:
Coisa em si,
- Satélite.

***
Como deve ter sido fácil de reparar, não fiquei choramingando nada desta vez. Primeiro porque não tive vontade, segundo porque acho que não devo ter vontade. Sei lá... às vezes me sinto mal de reclamar da minha vida enquanto tem tanta gente que parece que sofre mil vezes mais e parece indifernte, como se não sentisse o que sofre. Fora isso, odeio gente que parece ter pena de si mesmo, gente com cara de Madalena arrependida.